Religião
Memórias de um herói esquecido – Por David Lazarus
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Há 80 anos, durante o mandato britânico, um anglicano nascido na Austrália – cristão sincero – serviu como comissário distrital para a região da Galileia. O comandante Lewis Yelland Andrews (1896-1937) incentivou os judeus empenhados em residir novamente no país, com as seguintes palavras famosas: “Nós, cristãos, cremos que o Messias virá e salvará a humanidade, mas somente depois que houver um Estado judeu estabelecido… Depois de, durante toda minha vida, ter a esperança de me tornar um auxiliar para a reconstrução da nação judaica, considero-me feliz em ter esse privilégio agora”.
Dúzias de comunidades ao norte de Israel devem sua formação em parte a Andrews. Ele ajudou a passar dezenas de milhares de hectares de terra à propriedade judaica, o que possibilitou a instalação de postos avançados de conjuntos residenciais, nos quais os judeus que fugiram dos ataques árabes estariam protegidos. Andrews igualmente teve grande responsabilidade por uma decisão da Comissão Peel, no ano de 1937, na qual áreas ocidentais do país ao longo do mar Mediterrâneo foram antecipadamente destinadas para o domínio das autoridades judaicas, o que deixou os árabes muito irritados. No dia 26 de setembro de 1937, quando estava a caminho para participar do culto na igreja de Cristo, em Nazaré, Andrews foi assassinado por um árabe.
No dia após o seu assassinato, os judeus comemoravam Simchat Torá. Na Galileia eles interromperam as danças festivas e as trocaram pelo rolo da Torá, dedicando reconhecimento ao seu amigo em seu último trajeto para Jerusalém. Milhares se postaram nas ruas onde passaria o esquife de Andrews. Os líderes dos povoados e da corte legislativa judaica levaram Andrews para a última morada no cemitério protestante no monte Sião.
“Às 13:30 horas o caixão chegou a Jerusalém, acompanhado de um grupamento de honra formado de policiais e soldados britânicos”, relatou o jornal Davar no dia seguinte ao enterro. “O caixão de Andrews estava envolto com uma bandeira britânica e uma australiana. Todos os líderes da administração britânica e dos institutos nacionais compareceram […]. O bispo anglicano dirigiu o culto memorial e recitou o salmo preferido de Andrews. Quando o esquife foi baixado no sepulcro, o exército executou uma salva de três tiros, houve um toque de clarim, foram depositadas coroas e o sepultamento da vítima do terrorismo árabe chegou ao fim”.
Como resposta ao atentado, os britânicos prenderam centenas de líderes muçulmanos, sendo que cinco deles foram deportados para as Ilhas Seychelles. O Conselho Superior Muçulmano foi dissolvido e seus bens foram confiscados. O mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, que havia incitado o assassinato de Andrews, se escondeu na mesquita Al-Aqsa, protegido por guardas armados. Pouco tempo depois, al-Husseini conseguiu fugir para a Europa, onde colaborou com Adolf Hitler e os nazistas.
Até os dias atuais a sepultura é mantida pelo governo britânico. Na cidade de Netanya foi dado o nome de Andrews para uma rua, porém, mesmo assim, ele caiu em amplo esquecimento. — (israeltoday.co.il)